O DIABINHO DA GARRAFA
- andremoraes50
- 22 de mar. de 2021
- 2 min de leitura

Na cozinha, sentada na cadeira de balanço, entre idas e vindas do balançar, minha avó Terezinha me contava suas histórias.
Naquela ocasião, lembrou do tempo em que trabalhava na Usina “Maravilha”, que ficava pelos lados de Santo Antônio do Leverger.
- A sua bisavó cocota (assim a chamávamos) era cozinheira da casa grande, que era a casa onde os patrões moravam. Ela era a pessoas que eles confiavam para guardar a chave da dispensa. Dizia orgulhosa enquanto balançava na cadeira.
Falou entusiasmada que mesmo pequena, ajudava na costura dos sacos de açúcar e na limpeza do casarão. O senhorio, o Senhor Palmyro Paes de Barros, confiava somente a ela a limpeza de seu escritório. Dia sim, dia não, lá estava, limpando o chão e espanando a poeira que teimava em acumular sob as mobílias do cômodo.
Foi em um desses dias de faxina que avistou, em cima da mesa do escritório, misturado entre papéis, algo que lhe deixou as pernas bambas e lhe fez arrepiar todos os fios de cabelo.
- Eu juro que vi. Dizia com os olhos arregalados, estendendo os braços e mostrando os pelos totalmente arrepiados – Era um diabinho dentro da garrafa. Juro que vi. Juro por Deus! Ele estava, como se fosse um bebezinho, de olhos fechados, com um vermelho cor de carne e 2 chifrezinhos bem na testa.
Os olhos permaneciam esbugalhados, paralisados com a lembrança do tinhoso dormindo dentro da garrafa. Aos poucos a cadeira voltava a balançar num ritmo mais lento e compassado.
- O “seu” Palmyro era um homem bom pra gente. Acho que ele prendeu todo o mal que assombrava sua família dentro da garrafa junto com aquele diabinho.
Interrompeu bruscamente o balanço da cadeira e voltou-se para mim com um sorriso debochado de canto de boca e como se fosse me depositar um segredo, balbuciou:
- Acho que por isso eles eram ricos daquele jeito.
Comments