SONHAR MUNDO
- andremoraes50
- 16 de set. de 2021
- 2 min de leitura

Tudo era uma tela em branco. Aqui, neste espaço, existia um nada e sentado, aqui neste mesmo espaço, eu comecei a observar o vazio. O vazio me preenchia. Em mim, era um vazio completamente preenchido pelo nada. E parecia tudo inabalável. De repente, o tecido do meu nada começou a rasgar.
Existiu um rasgo no fundo do meu nada.
De dentro do rasgo começou a brotar o tudo. E o tudo era estranho para mim. O tudo que brotava começou a perturbar o meu nada. A pintar a minha tela, a existir no meu mundo. O meu existir começou a ser preenchido pelo tudo.
Do rasgo eu vi brotar algo que pensei em chamar de água. Ela brotava, saía, escorria, “cachoeirava”, acumulava criando lagos. Dali escoava em braços, rios, corria e se juntava em oceanos. Mudava, transmutava, evaporava, chovia...
Eu observava o nascer da água preenchendo o meu nada.
Mas não era tudo.
De dentro daquele mesmo rasgo, do rasgo do meu nada, começou a expelir-se algo que chamei de terra. Esfarelava-se de dentro do buraco. Empedrava-se quando caía. Areiava-se envolta da água. E acalmava-se, sereno enquanto chão.
De cima da terra, algo suspendia-se enquanto céu. E do céu alguma coisa brilhava quanto luz. E essa luz começava a parir alguma coisa que era oposta, e eu, pequeno que estava, a nomeei de noite.
O rasgo preencheu o meu nada e eu maravilhava-me.
Toda essa construção era regida por algo que me apresentou como som. Ele barulhava-se, gritava e ecoava bailando solto por todos os cantos de meu nada, agora preenchido.
Eu ficava submerso dentro das coisas que saiam daquele rasgo. Deitei-me sobre a terra para observar os filhos que o dia paria. E, em volta de mim a terra se expandia em matos, de dentro brotava árvores que se juntavam e se nomeavam selva, que se abraçavam e cantavam hinos “ecossistemáticos”. Era tudo matemático, em conjunturas perfeitas, em escalas mútuas em uma esfera sustentável. Eu era privilegiado de ter a permissão de estar ali. Eu era aquele lugar.
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