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HAMLET CONTEMPORÂNEO

  • andremoraes50
  • 22 de mar. de 2021
  • 2 min de leitura

Apresentação do texto HAMLET CONTEMPORÂNEO em formato de esquete teatral.



Flávio e Bruno se encontram em uma mesa de bar para um happy hour no final da tarde.



FLÁVIO

Como eu estava te dizendo, assisti uma montagem ótima de Hamlet no teatro municipal de São Paulo. Os atores entravam no palco de rapel e tinha umas pirofagias também. O público ficava enlouquecido. No solilóquio de Ser ou não Ser, o ator que interpretava Hamlet, tocava uma guitarra e fazia uns movimentos hard core. Foi show demais.


BRUNO

Não acho que um clássico deva ser mudado dessa maneira, ainda mais de forma tão radical.


FLÁVIO

Você não acha porque não estava lá. Quando Ofélia se afogava no rio, a plateia recebia um jato de água em todo o corpo. Eu subi no palco e comecei a recitar um soneto do próprio Shakespeare, não pude me conter.


BRUNO

Flávio, clássico é clássico, não se altera. Não vejo o menor sentido em produzir um clássico com mudanças tão radicais. Não falo isso por ser chato, ou que não aprecie uma montagem mais contemporânea. Só que quando você muda um clássico, você acaba alterando o sentido do que o dramaturgo quis passar. Ainda mais se tratando de Hamlet.


FLÁVIO

Ah Bruno, abra sua mente. A palavra de ordem agora é interatividade. Participar da encenação, contribuir com o espetáculo. Gosto de peças assim.


BRUNO

Flávio, querido, com toda certeza Shakespeare deve estar estribuchando no túmulo com essa montagem. O maior drama da humanidade transformado em espetáculo pirofágico. Quando você assiste uma peça, ela tem que te lavar a refletir, te levar a algo. Agora, sair de um espetáculo, molhado, amassado, não é a ideia de entretenimento que tenho na cabeça.


FLÁVIO

Você é muito quadrado Bruno. As coisas mudam, os contextos se expandem. Não podemos ficar esperando que reproduzam uma peça como no século passado. Se uma apresentação pode te causar experiências diversas, seja bem vinda. Quando subi no palco e recitei o soneto me senti parte da encenação, como se tivesse ensaiado para encenar aquele momento. Foi empolgante quando terminei e o cavalo que carregava Gertrudes começou a defecar em cena e os atores em volta fazendo um ballet contemporâneo…


BRUNO

Como?


FLÁVIO

Ah, agora vai me dizer que não pode introduzir ballet contemporâneo em Hamlet…


BRUNO

Não é isso. Você disse cavalo?


FLÁVIO

Sim oras, o cavalo foi o ponto alto do espetáculo, chegou e permaneceu até o final, parecia até que havia ensaiando.


BRUNO

Me poupe, Flávio. O que você assistiu pode ser tudo, menos uma montagem de Hamlet.


FLÁVIO

Me poupe você, Bruno. Com pirofagias ou sem pirofagias, com cavalos ou sem cavalos, o importante é que a peça passou sua mensagem e eu saí de lá extasiado.


BRUNO

E molhado também. Coitado do infeliz que vai limpar aquele palco.


FLÁVIO

Com você não há argumentos. Agora vamos, quero te levar para assistir um filme que está em cartaz. O cinema é 3D. Falaram que as cadeiras vibram e que os atores saem da tela e interagem com você. Deve ser uma puta experiência.


BRUNO

Ah não, essa eu passo a vez. Prefiro um cineminha convencional. Depois você me conta como foi essa aventura.



FIM







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Dramaturgia: André Moraes

E-mail: andremoraes50@gmail.com


 
 
 

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